São Paulo, 2018.
Em
uma das grandes periferias paulistas, uma jovem adolescente chega da escola e
encontra sua avó falando ao telefone, mas esta disfarça ao sentir a presença da
neta na casa.
-
Vó, está tudo bem? – Pergunta Gabi, intrigada com a reação dela.
-
Está sim, minha querida! Como foi a aula? – Pergunta Constanza.
-
Foi boa, mas estou te sentindo um pouco estranha.
-
Está tudo bem, minha neta. Eu vou cuidar dos meus afazeres. Você vai limpar seu
quarto hoje? - Ela, pergunta, mudando de assunto.
-
Pretendo, afinal está uma bagunça e eu quase não tenho tempo. – Responde a
jovem.
-
Está bem, Gabi. – Diz a avó, a deixando na sala enquanto ia pra cozinha arrumar
umas coisas.
Gabi
entra em seu quarto e joga a mochila em cima da cama. Ela se aproxima da cômoda
e pega o porta-retrato, que estava com a foto de sua mãe e fica a observando
por alguns minutos. De repente, a avó entra no quarto e a vê com o objeto nas
mãos. Gabi se vira e a encontra ali, parada diante da porta.
-
Vó, por que minha mãe me deixou tão cedo?
-
Coisas da vida, minha neta. Sua mãe tinha uma obsessão sem limites e fez muitas
coisas erradas. Ela quis traçar um caminho diferente daquilo que eu imaginava.
-
Vó, a senhora me falou semanas atrás que minha mãe tinha atritos com o meu pai.
Talvez se eu o procurar, pode ser que eu consiga entender melhor o que houve
com minha mãe e por quais razões ela escolheu esse caminho.
-
Não se meta nessa história, minha neta. Foque nos seus estudos, no seu trabalho
e deixe esse assunto morto e enterrado. Sua mãe ficaria orgulhosa de ver você
num caminho melhor.
-
Entendo, vó. Meu pai sabe de minha existência?
-
Não e eu prefiro que ele nem saiba, minha neta. Agora, vamos ao trabalho!
Ao
deixar a avó sair do quarto, Gabi fica pensativa e olha mais uma vez a foto da
mãe.
Algumas
horas mais tarde, Constanza deixa Gabi ocupada em casa e vai na casa de uma vizinha
chamada Berenice.
-
Oh minha amiga, como você está?
-
Estou bem, Berenice. Eu vim o mais rápido que pude pra falar contigo.
-
Aconteceu alguma coisa? Estou te achando preocupada.
-
Pior que aconteceu, Berenice!
-
Eu vou trazer um café pra nós duas, mas me conta: o que te aflige?
-
Eu não sei por onde começar, mas estou preocupada com a minha neta. Constanza, eu
estou com minha saúde comprometida.
-
Sério? O que o médico disse?
-
Estou com aneurisma celebral. – Revela Constanza preocupada e deixando Berenice
perplexa.
Enquanto
arrumava tudo, Gabi percebe que uma toalha da vó estava em cima de uma cadeira
e decide colocar no guarda-roupa do quarto da avó. Organizando as coisas aos
poucos, ela acaba achando um envelope escondido por entre os lençóis e abre,
lendo o seu conteúdo por dentro. A jovem fica perplexa ao ver o resultado de um
exame.
Assim
que Constanza chega em casa, Gabi a procura e com o envelope em mãos, pergunta:
-
Por que não me contou sobre isso?
Constanza
fica séria nesse instante.
-
Não era pra ter mexido em minhas coisas.
-
Vó, a senhora está doente e não quis me falar nada. Eu estou chocada!
-
É só um exame de rotina.
-
Pára! Eu sei de tudo. Não sou criança. A senhora está com aneurisma celebral e isso
é coisa séria. – Diz Gabi, se sentindo indignada pela avó não ter compartilhado
uma notícia tão importante como aquela.
-
Eu quis te poupar, pra não gerar preocupações a mais.
-
Somos só nós duas aqui dentro dessa casa. A senhora devia ter me contado sobre
isso. Eu ia entender e tentar te ajudar.
-
Você já me ajuda, minha neta. Agora, me dê esse envelope!
Gabi
entrega o envelope.
-
Eu me preocupo com a senhora, porque é como se fosse minha segunda mãe.
Constanza
fica séria diante da neta e abaixa a cabeça, pensativa.
-
Eu não quero perder a senhora. Eu já perdi minha mãe. Não iria suportar.
Algumas
lágrimas caem dos olhos de Constanza e Gabi a abraça fortemente, lhe beijando o
rosto.
Meses
se passam e Constanza é internada em estado grave no hospital. Gabi fica do seu
lado sempre. Em um dia qualquer, a senhora decide fazer-lhe uma revelação importante,
que estava guardada por anos e pede a atenção da neta naquele momento exato.
-
Eu preciso te contar antes que seja tarde demais.
-
Vó, por favor não me deixa! – Pede a neta aflita.
-
Me escuta, Gabi! Quero que sejas forte.
-
Estou aqui e tentarei ser forte, vó por você.
-
Seu pai se chama Daniel e ele mora no Rio de Janeiro. Desde que sua mãe morrera
e deixou você sob os meus cuidados, eu sempre tive notícias do seu pai. Só que
a gente nunca se aproximou. Por isso, ele desconhece a sua existência. Gabi, não
o culpe quando você conhece-lo. Sua mãe nunca quis dizer a verdade, enquanto
estava viva. Eu devia ter feito tudo ao contrário, mas eu também me deixei
levar por um orgulho bobo.
-
Vó, não me importa esse assunto. Eu não pretendo conhecer esse tal de Daniel.
Eu só quero que a senhora fique bem e esteja comigo.
-
Gabi, é importante que você conheça o seu passado sim. Daniel faz parte do seu
passado, mesmo você não querendo.
-
Vó, eu amo muito a senhora. Preciso que reaja!
-
Eu também te amo muito, mas tem coisas que são inevitáveis na vida da gente.
Gabi, me promete uma coisa?
-
Sim. Pode falar! – Diz a jovem, aflita.
-
Promete que vai continuar traçando o seu caminho, como sempre fez?
-
Sim, vó. – Responde a neta.
-
Isso me deixa muito feliz e orgulhosa. Se sua mãe pensasse como você, talvez as
coisas não teriam acabado do jeito que houve.
-
Eu queria muito entender isso, vó. O que minha mãe fez que te deu tanto desgosto?
-
Gabi,... – Diz Contanza, já sentindo que o seu fim estava chegando diante dos
seus olhos.
-
Vó, por favor não me deixa!
-
Escute: seja diferente de sua mãe! Não cometa os mesmos erros que ela.
Assim
que pronuncia essas palavras, Constanza falece, deixando Gabi se desesperar no
hospital. Berenice entra no quarto em que estava Constanza e abraça Gabi
fortemente, a confortando enquanto os enfermeiros chegavam as pressas ali, pra ver
a paciente internada.
Chegando
em casa acompanhada de Berenice, Gabi prefere ir pro quarto e nem se alimentar.
A vizinha se preocupa com o estado da jovem, mas respeita o momento dela.
A
jovem que havia perdido a mãe tão cedo, agora vai ter que aprender a conviver
sem a avó por perto.
“Seu
pai se chama Daniel e ele mora no Rio de Janeiro. Desde que sua mãe morrera e
deixou você sob os meus cuidados, eu sempre tive notícias do seu pai. Só que a
gente nunca se aproximou. Por isso, ele desconhece a sua existência...”
A
lembrança do que sua vó dissera minutos antes de morrer, ainda atordoam sua
mente.
Será
que Gabi vai desejar conhecer Daniel ou vai seguir sua vida normalmente,
sozinha a partir de agora?
Em
alguns dias depois, a jovem vai até a casa de Berenice.
-
Minha menina, como você está?
-
Estou tentando me acostumar com a ideia de viver sozinha.
-
Você não está só, Gabi. Eu estou aqui pro que precisar. Acredite!
-
Agradeço por tudo de coração. Mas a vida que segue agora. Eu não queria fazer
isso, mas pensei bastante e decidi procurar Daniel.
-
Gabi, você tem certeza de que quer mesmo fazer isso? Ele não te conhece.
-
Eu estou ciente disso, Berenice mas preciso vê-lo. Conversar com ele. Só assim
vou passar a entender coisas que eu não entendo.
-
Se você tomou essa decisão, quem sou eu pra impedir? Segue seu coração e faça o que
for melhor pra você, mas pense nos conselhos de sua avó em primeiro lugar. Ela
queria te ver bem, acima de tudo.
Gabi
abraça Berenice, carinhosamente.
-
A senhora e minha avó conversavam bastante sobre tudo. Por isso, preciso
perguntar uma coisa importante: sabe onde posso achar esse tal de Daniel?
Berenice
fica séria diante de Gabi nesse instante ao ouvir aquela pergunta.
-
Por favor! É importante pra mim! – Pede a jovem, seriamente.
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