Batidas na porta.
– Daniel, você está aí?? – pergunta Wallace, do lado de fora.
Meu irmão vem me incomodar de novo com aquela história de que eu tenho que apresentar a ele umas amigas que conheci há alguns dias no clube, e como eu sei que ele não vai me deixar em paz, decido me levantar da cama e deixar um pouco de lado o meu jogo favorito sendo transmitido pela televisão. Abro a porta e o encontro sorridente.
– Sabia que estava assistindo ao jogo. Não perde uma partida do Corinthians. – diz Wallace, entrando porta adentro e observando o jogo na televisão.
– Pois é, irmão! Sou torcedor e não perco nenhuma partida mesmo.
– Eu sei disso. Preciso falar com você.
– Eu até já sei o que você quer falar comigo, Wallace. Eu ainda não tive contato com as meninas, mas pode deixar que assim que eu falar com uma delas, eu falo com você ok!
– Pode crer. Mas não era sobre isso que eu vim falar com você, irmão.
– Não? – Ele estranha, mas em seguida pergunta: – Então o que seria?
– Daniel, sabe aquela empresa que você deixou um currículo mês passado?
– Sim. Eu sei. – Ele muda sua expressão.
– Então, a empresa me ligou hoje de manhã e me pediu pra te avisar de uma entrevista que vai rolar amanhã às duas da tarde. Eles não conseguem falar contigo pelo seu telefone.
– Sério, cara? Mas isso é muito bacana. – diz Daniel feliz da vida. – Poxa, Wallace! Foi mal! Acabei deixando o celular de lado alguns dias.
– Eu sabia que você ia gostar disso. Por isso eu vim pra te trazer esse recado, mas já até imagino o motivo de estar off.
– Muito obrigado, irmão! Nossa, eu estou feliz por demais. Essa é uma oportunidade de ouro e eu preciso dela.
– Eu sei. Bom, o meu recado está dado e espero que você consiga este emprego, porque é muito ruim viver sem dinheiro. – diz Wallace, sorrindo e batendo no ombro de Daniel.
– É verdade, irmão! Obrigado por ter vindo e me trazer essa novidade boa. – diz ele contente.
– Se conseguir o emprego, não esquece de me pagar aquela dívida. – diz Wallace, sorrindo.
– Você é um safado, mas te amo tá! – brinca Daniel.
Os dois apertam as mãos.
Daniel e Wallace moram separados. Wallace é formado em arquitetura e mora sozinho em um bairro próximo do irmão que divide a casa com os pais e mais dois irmãos mais novos. Daniel é um estudante que cursa informática e no momento, procura por oportunidades de emprego, até que recentemente, ele deixara um currículo numa empresa conhecida nacionalmente e conseguiu uma vaga pra trabalhar como auxiliar de escritório.
Foi a melhor notícia que recebeu naquele dia. Conseguira uma entrevista e acreditava fielmente que iria ser aprovado, afinal a fé era o seu forte.
No dia seguinte, às duas da tarde conforme era o combinado, Daniel passa por uma entrevista e preenche alguns dados solicitados pelo departamento de RH. Após a conclusão, Daniel passa por alguns testes e seu primeiro dia de trabalho seria em breve, caso fosse aprovado. Ao sair da entrevista, ele se encontra com Wallace do lado de fora e o convida a ir ao shopping mais tarde. Ele aceita.
– Como foi lá dentro? – Wallace pergunta.
– Agora é esperar, irmão! Estou confiante.
Enquanto isso, Gisele atende telefonemas e faz anotações no bloco de papel. Em seguida, digita no computador e imprime alguns arquivos. Coloca na pasta, organiza a mesa, lê as mensagens de texto do celular rapidamente e depois volta a sala do chefe pra entregar alguns documentos importantes.
– Ufa! Acho que hoje consegui terminar mais um dia. – diz ela logo após o final do expediente para a amiga Doroth, a quem considera como uma irmã.
– É verdade, amiga! Ainda bem que a gente vai contar com um auxiliar em breve né?
– Pois é, amiga! Espero que esse funcionário nos ajude porque o que foi contratado meses atrás não nos ajudou em nada.
– Vamos ver como vai ser o desempenho deste novato na empresa.
– Senti uma pontada de ironia nesse seu comentário.
– Ué, Gisele! O último contratado da empresa, saiu por sua causa. Você ficou no pé dele direto. Ele saiu com receio de você.
– Pára, Doroth! Não é bem assim. O cara é folgado! Dá pra perceber de cara que ele não estava agregando em nada. Sou justa e gosto de gente organizada!
– Está certa. Não está mais aqui quem falou.
– Bom, você vai ao shopping ainda hoje? Se for, me avisa que eu vou passar em casa e me arrumar. – diz Gisele, secretária de uma empresa multinacional.
– Sim. Eu vou ligar para a Grace e para os outros pra ver se eles vão também.
– Ótimo. – diz Gisele, desligando o computador e organizando sua bolsa pra sair.
Mas antes que ela saísse da sala com a amiga, o chefe Otávio a chama.
– Preciso falar com você rapidinho!
Gisele faz sinal para Doroth aguardar e entra na sala do chefe que já lhe entrega um currículo e uma folha de testes preenchida.
– Quero que analise bem e me dê o seu feedback!
– Senhor, é um bom currículo! E parece ser um candidato perfeito para a vaga.
– Ótimo! Vou ligar para o RH e solicitar a contratação dele em imediato.
– Mas senhor... – Se indaga Gisele.
– Confio nos seus instintos. Agora divirta-se!
Horas mais tarde, as duas amigas já se encontram no shopping e decidem visitar algumas lojas de roupas e calçados. Grace, Murilo, Júlia e Zeca as encontram por lá e juntos vão à uma pizzaria.
Gisele é uma jovem que curte boas amizades e seus amigos são como irmãos pra ela.
A admiração que sente por eles é um sentimento fraterno e verdadeiro.
Grace é uma adolescente que sofre na convivência familiar. Seus pais estão em guerra, com o casamento indo para a separação e ela não aceita isso. Seu mundo está confuso e perdidamente vazio.
Murilo é um rapaz fera no skate, curte a vida com aventuras e não tem medo de enfrentar desafios. Seu sonho é ser um brilhante ator de cinema.
Júlia é uma pessoa sonhadora, que acredita que um dia vai encontrar o príncipe da sua vida e que será feliz nos assuntos do coração. Ela é popular e sempre anda na moda.
Zeca é um cara determinado e ousado. Ele trabalha para uma oficina mecânica e sempre gosta de ser o líder seja em casa ou no trabalho.
Já Doroth é uma jovem que tem pés no chão, decidida e que sonha em conhecer o exterior e se formar como veterinária. Companheira de todos, ela é a única com que Gisele compartilha suas emoções e segredos, pois apesar de serem amigas de trabalho, as duas se conhecem desde os tempos do primário e sua amizade se tornou de grande valor.
Ainda no shopping, Gisele e Júlia decidem deixar os outros conversando e vão à uma loja de roupas que fica bem na frente da pizzaria. Gisele mostra algumas peças de roupas para a amiga que fica indecisa em escolher.
De repente, surge Daniel e começa a escolher algumas roupas também, quando Gisele se esbarra nele e deixa cair uma peça de roupa feminina no chão. Daniel pega a roupa e a entrega.
– Desculpe! – diz a jovem, pegando a roupa das mãos do rapaz.
– Sem problemas. – diz ele, simpático.
Os dois se encaram por um pequeno instante.
Gisele agradece e sai, deixando Daniel atraído por sua beleza. Ela se afasta com a amiga e ao sair da loja, Júlia comenta:
– Percebi o jeito que ele te olhou. Parece que gostou de você.
– Que isso, Júlia! Eu nem conheço.
– Mas é por isso mesmo, amiga! Por não te conhecer que ele gostou de você.
– Deixa de conversa fiada, ok? Você sabe muito bem que eu não quero envolvimento nenhum com ninguém agora.
– Gisele, às vezes o amor nos surpreende de uma forma que você nem acredita.
– Você virou filósofa agora? – diz ela, sorrindo.
– Não. Eu só apenas acho que você precisa esquecer o passado e viver o presente, dar uma nova chance ao seu coração e se envolver num novo relacionamento.
– Júlia, as coisas não são assim como parecem ser. Eu preciso de um tempo, entende? Eu não quero mais tomar atitudes precipitadas e me envolver como me envolvi num relacionamento complicado e que só me trouxe mágoas e ressentimentos.
– Tudo bem, Gisele! Mas conhecer novas pessoas é legal, vai te fazer bem. Você necessariamente não precisa se envolver, mas curtir seria uma boa.
– Eu vou pensar no que você me disse ok? – ela muda de assunto. – Bom, acho melhor ver os outros né? O que será que eles estão aprontando?
Júlia consente sorrindo.
E as duas amigas caminham juntas abraçadas para a pizzaria, logo em frente.
Já Daniel encontra Wallace no celular telefonando.
– Eu já disse mãe! Meu pai vai voltar em alguns dias. Não! Ele me falou por telefone ontem à noite. Mãe, a senhora não consegue entender né?
Alguns minutos depois, ele se despede da mãe e desliga o telefone.
– Nossa mãe de novo né? – questiona Daniel.
– Ela não acredita que nosso pai volta essa semana.
– É complicado essa relação dos dois, irmão. Eu canso de falar com nosso pai pra ele mudar de emprego, pelo menos tentar algo por aqui perto.
– Mas ele nunca vai fazer isso, Daniel! Nosso pai ama aquele trabalho e o patrão dele paga uma grana boa.
– Nisso você tem toda a razão.
– Mas e aí o que você comprou de bom?
– Pouca coisa que me interessou. Ah, te contar uma coisa aqui: encontrei uma garota muito linda, irmão.
– Sério? E de onde ela é?
– Eu não sei. Eu não cheguei a puxar assunto com ela.
– Irmão fala sério! Tu encontras uma garota linda e nem puxa papo com ela. O que houve?
– Não sei, cara! Me senti inseguro. Estou assim desde que terminei com a Maria.
– Cara, desencana! Essa Maria foi uma cilada na sua vida. Você fez muito bem de ter terminado com ela.– diz Wallace, sincero deixando Daniel pensativo. – A pior merda foi essa Maria ter cruzado sua vida!
Alguns dias após, Gisele e Doroth se preparam pra trabalhar quando o Sr. Otávio surge na porta, avisando de que se Daniel chegar, para ele ir procurá-lo em seu escritório.
Gisele obedece a ordem e Doroth diz:
– Está na hora de ir pra recepção! Boa sorte! – E sai porta afora.
Gisele concorda.
Alguns minutos depois, surge Daniel todo arrumado e com um envelope na mão.
– Bom dia! Eu me chamo Daniel e fui contratado pra trabalhar nesta empresa. – Ele dirige-se à Doroth que estava já no corredor e que indica a sala de Gisele.
– É só entrar por aquela porta ali! – diz Doroth, gentil.
– Obrigado! – ele agradece e se afasta, deixando Doroth admirada.
Gisele confere alguns arquivos no computador e de repente, se sente nervosa quando sente falta de uma caneta, na qual estava caída ao chão.
– Eu já estou cansada de falar pra ninguém mexer nas minhas coisas. Cadê a minha caneta? – ela fala sozinha, quando surge Daniel em sua frente.
– Bom dia! Acho que encontrei sua caneta. Você?? – Ele se surpreende.
Gisele fica séria ao vê-lo.
– Eu me chamo Daniel e sou o novo auxiliar de escritório. – diz ele, ao vê-la novamente.
Aquilo foi uma incrível e boa coincidência.
Gisele cumprimenta Daniel, se levantando da mesa.
– Oi! Ah claro! Eu vou levá-lo até o escritório do Sr. Otávio. Ele aguarda por sua presença. – Ela o conduz à sala do chefe.
Daniel fica atraído pela jovem que tenta disfarçar os olhares.
Ao ser apresentado pela secretária, Daniel aperta a mão de Sr. Otávio, que lhe dá as boas-vindas e apresenta Gisele ao novo funcionário.
– Gisele é minha secretária pessoal. Portanto, vocês dois vão trabalhar juntos daqui pra frente. Ela vai te passar todas as tarefas. O que você precisar, meu amigo, pode contar com ela ou comigo, ok? E seja bem-vindo no nosso time, Daniel! Será um prazer tê-lo conosco. – diz Sr. Otávio, confiante.
Daniel agradece gentilmente.
– Acompanhe a Gisele que ela vai te mostrar sua sala. – diz Sr. Otávio, em seguida. – Espero que seja do seu agrado, apesar da bagunça que outro funcionário acabou deixando.
– Isso não é problema. Eu sou muito organizado. – diz Daniel, demonstrando disposição, deixando os dois admirados.
– Fico feliz por isso, Daniel! – diz Sr. Otávio.
– Por gentileza, me siga! – diz Gisele, abrindo a porta e Daniel consente.
Em seguida, ele sai na companhia de Gisele, que fecha a porta da sala do chefe.
– Vai ser um prazer trabalhar ao seu lado. – diz o rapaz, feliz.
– Espero que sim, Daniel. Seja bem-vindo!
– Obrigado, Gisele! Aliás, tem um bonito nome. – diz o jovem rapaz, sorrindo e aproveitando para dar uma flertada.
– Obrigada! – ela agradece. – Você poderia me ajudar com alguns arquivos que ainda não foram digitados no computador? Aqui temos trabalho de sobra e o tempo voa.
– Claro! Onde estão os arquivos? – Ele pergunta, demonstrando interesse.
– Deve estar naquele armário. Vou pegá-los pra você.
– Pode deixar comigo! – Ele se aproxima dela e ela se afasta um pouco. – Qual gaveta está?
– A primeira de todas. – responde a jovem, que não consegue desviar os olhos do rapaz.
Daniel alcança a gaveta, abre e entrega os arquivos a ela e os dois tentam desviar a atenção um do outro.
– Que coincidência né? – Ele resolve mudar de assunto.
– Coincidência? – Ela estranha a pergunta.
– Sim. O nosso encontro no shopping.
– Ah! É verdade. Põe coincidência nisso! – diz a jovem se lembrando de tal fato e tentando se concentrar no trabalho, enquanto Daniel arruma os arquivos na mesa.
– Você trabalha há muito tempo aqui? – Ele arrisca perguntar.
– Têm um tempinho já. – diz ela, não lhe dando muita confiança.
– E você é sempre assim, séria?
Nesse instante, ela olha para os olhos dele e responde:
– Daniel, para exercer a função no qual sou designada, eu preciso ser séria e muito competente. Agora, termine de arrumar esses arquivos aqui e se precisar de alguma coisa, me chame! Com licença! – E ela se retira da sala, o deixando um pouco sem jeito.
Neste ínterim, Grace ouve suas músicas preferidas no quarto quando ouve vozes vindas da sala. Ela abre a porta do quarto e chega próximo da escada e ouve mais uma vez a discussão dos pais Alda e Emiliano.
– Talvez seja melhor eu ir embora desta casa e me afastar da sua arrogância. – Ela discute.
– Quero ver se você tem coragem! Mas quer saber o que eu acho? Você nunca vai sair desta casa porque não tem pra onde ir.
As palavras que são gritadas em alto e bom som ferem cada vez mais o coração da adolescente, que se debulha em lágrimas de profunda tristeza, sentada no chão do seu quarto.
Daniel joga xadrez com o irmão Wallace, que decide lhe fazer uma pergunta sobre Gisele.
– Então não sabe nada dela ainda? Não sabe se ela é casada, solteira...
– Não sei, irmão. Mas vou descobrir aos poucos. Agora estou bem próximo dela!
– Faça isso, irmão! Repare se ela tem aliança no dedo.
– Eu já reparei nisso. E ela não tem aliança, meu caro.
– Hum. bom sinal. – diz Wallace. – Você é um cara de sorte. Conseguiu entrar numa empresa multinacional e ainda conhecer uma secretária gente fina.
– Pois é, irmão! Mas tem uma coisa: pelo que pude perceber da Gisele é que ela não me parece ser uma pessoa fácil não.
– Você está me dizendo que ela é uma pessoa difícil de ser conquistada?
– Creio que sim. – diz Daniel, sensato mexendo na peça de xadrez. – Xeque mate.
– Ah não! De novo não! – Se chateia Wallace ao ter perdido o jogo.
“A partir de hoje Daniel, você vai ser um cara diferente. Vai conquistar a Gisele e vai tirar a Maria do seu pensamento de vez.”
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